domingo, 26 de dezembro de 2010

na parede do banheiro

Em um canto, um papel de picolé de açaí amassado e sujo. No outro, um buraco um pouco maior do que uma formiga, e um pouco menos escuro que um gato.
Todo um caminho: siga o espelho, vire a esquerda na foto do Raul Seixas e passe por cima do olho um pouco vesgo da Rita Lee. Desvie do azulejo pintado, e contorne a terceira letra da palavra Alegria. Deixe o resto da frase pra trás.
Depois é só seguir pelo caminho marcado entre dois espaços brancos, até entrar em um caminho escuro. Tudo bem, porque você não precisa saber onde ir: vai acabar dando sempre no mesmo lugar.
Algumas folhas, um pouco de terra e muitas migalhas sendo carregadas de um lado pro outro, batendo-se umas nas outras.
Ninguém nunca viu para onde vai, ou se aquilo é mesmo comida. A gente só supõe.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

canadés

Olhei ao redor: na sala, várias pessoas com caras e tons diferentes sentadas no sofá e conversando sobre coisas que eu nunca entenderia. Fazia barulho, e eu estava enjoada.
Mas já era muito tarde para fingir que não via e subir as escadas mais uma vez. Já tinha passado muito tempo desde a última vez que eu decidira fechar os olhos e tropeçar no mesmo segundo degrau, para depois desabar no quinto e me arrastar até o último.
Eu decidira, alguns minutos atrás, que iria tentar encontrar o que havia neles que me provocava tanto medo de mim mesma.
Tropeçando em pés e em olhos assustados e curiosos, sentei-me no canto do sofá e esperei. Não sabia o que esperar, mas alguma coisa certamente viria. Até que ela se virou:
- Afinal, o que está procurando?
Na nossa frente, um homem que parecia uma lebre de monóculo estava servindo chá. Uma bandeja em cada orelha, duas cartolas em cada mão. Uma xícara em canapé. Cada pé.
- Não sei. Achei que vocês me diriam.
Ela se virou para seus companheiros e riu. Depois, voltou-se para mim novamente e me encarou por alguns segundos, só pra me assustar. E tinha resultados.
- Dizer o quê? Não é você que sempre passa por aqui e nos ignora? Nós te convidamos para a nossa festa, te oferecemos chás e cadapés, e você nunca nem ao menos acenou a cabeça!
- Mas eu...
-... Passa correndo, correndo como se nada importasse, e nós... coitados! coitados de nós, não é Roseline?
Uma mulher de vestido vermelho e cabelo atado no lugar mais alto possível virou-se, balançando os brincos. Sua voz parecia ser a de duas pessoas ao mesmo tempo:
- Pois sim, pois sim. Coitados de nós, Margie.
Na minha frente, o homem-lebre parecia derrubar tudo ao mesmo tempo que mantia o perfeito equilíbrio, oferecendo-me o chá. Mais do que uma oferta, parecia uma ameaça.
Peguei um cadané com as duas mãos e acomodei a xícara nas bandejas, enquanto Margie e Roseline sussurravam algo entre elas.
- Obrigado - disse o homem-lebre - mas a tarefa de levar os chás e os nadacés é minha. Irritado, virou-se e saiu balançando o pompom.
Naquele momento, eu já não tinha certeza de que eu realmente queria estar ali. Os rostos e corpos ao meu redor começavam a deformar-se, e as aranhas começavam a invadir os cantos.
- Olha, eu acho que tenho que ir agora...
- Ir? Aonde? Você tem para onde ir?
Pouco a pouco, seus rostos começaram a tornar-se assustadores, seus sorrisos cresciam e confundiam-se com seus olhos, e suas mãos se esticavam até meu rosto, as unhas vermelhas bem na minha frente.
Por impulso, fechei os olhos. E de certa forma, arrependo-me de ter fechado. Mas na hora tudo o que eu conseguia fazer era apertá-los mais e mais, e pressionar minhas mãos contra eles.
Quando abri, eu já sabia o que veria: o mesmo sofá de couro marrom, as mesmas paredes verdes e brancas e a mesma escada, me chamando para subir e ignorá-los mais uma vez.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Já era tarde, e eles continuavam ali.
Nenhum dos dois estava dormindo, mas fingiam. Mantinham os olhos fechados e a respiração profunda, abraçados no sofá. Estavam disfarçando para si mesmos o que estava acontecendo.
Na outra sala, os amigos dormiam profundamente, cada um em um colchonete.

“Talvez seja hora de irmos deitar. Não está desconfortável?”

Ele se chama Ferdinand. Carregava o nome como um fardo, desde que nascera. Ninguém o levava a sério.
Não era um completo solitário. Tinha o clube do livro, os amigos virtuais e aqueles que estavam no quarto ao lado. E tinha ela.
Ao contrário do de sempre, ele nunca tinha realmente pensado nela antes. Nem ela nele. As coisas simplesmente aconteceram assim, rápidas. Para os dois.
Quando cresceram, surpreenderam-se com a quantidade de pessoas que não acreditavam em amor mútuo ao acaso. Mas isso é uma coisa que vai longe demais. Começa nos filmes de maçã do amor, e acaba nos olhos de quem ouve.
O fato é que eles estavam lá, encolhidos em um sofá onde cabiam mais quatro, e ele, depois de tanto tempo, conseguira sair daquele jogo de fingimentos e dizer alguma coisa.

“Você gosta?”, ela perguntou, como se não tivesse ouvido a pergunte dele.

Tinha essa mania: na maior parte do tempo, ignorava as perguntas comuns, e soltava alguma loucura. Por exemplo, se você perguntasse a ela qual era sua cor favorita, ela poderia demorar horas te respondendo. Mas se lhe perguntasse como fora seu dia, ela te perguntaria qual era a sua cor favorita.
Cada amigo seu tinha lhe repetido a cor favorita mais de cinco vezes, mas pareciam não perceber o fato.

“Se eu gosto? Gosto do que?”

Naquele momento, ele gostava de quase tudo. Gostava da casquinha de pipoca no dente, do cheiro da garota que estava em seus braços, da garota que estava em seus braços, do fato de uma garota estar em seus braços, e da cor do sofá.

“Se você gosta da cor desse sofá. Eu sempre me perguntei que cor era. Mas sempre foi a minha cor favorita. E sempre que me perguntam qual é a minha cor favorita, eu não sei responder. E eu acabo me enrolando e dizendo algo que não tem nada a ver com esse sofá... Na verdade, na grande verdade, eu gosto da cor desse sofá quando estamos sentados em cima dele. E quando você encosta a sua mão na minha desse jeito. E eu nunca tinha percebido isso antes, sabe... É estranho.”

Mais uma vez, ela estava fazendo um monólogo por uma pergunta que não tinha sido respondida. Era tudo muito confuso com Julia.
Quando ela era pequena, seu tio escreveu um pequeno livro de dez páginas infantil, intitulado “O que está havendo com Julia?”. E para Ferdinand e seus amigos aquele era um nome absurdo, porque nunca se podia saber exatamente o que se passava com Julia. Ninguém nunca tinha ido tão longe a ponto de conseguir ser respondido de verdade por ela. Nem mesmo a sua mãe.

“É... Eu gosto. Posso perguntar que cor é pra minha mãe, se quiser. Mas... Você gostava desse sofá antes de... Sabe, hoje?”

Se existia alguém inseguro naquele grupo, esse alguém não era nenhum dos dois encolhidos naquele pedaço de almofada. Os dois sabiam o que eram e o que não eram, e estavam acostumados com isso.
Quando crianças testaram muito bem seus limites e preferências. Uma vez tentaram ser alienígenas. Até hoje testam, embaixo dos lençóis. Mas isso ninguém sabe completamente, e você também não vai saber.

“É uma boa pergunta. Eu demoraria muito pra ter uma resposta pra ela, sabe. E acho que é porque eu nunca tinha parado pra pensar nisso. Mas isso não quer dizer que eu não tenha sentido. E eu não sei se eu senti , se não pensei. Entende? É tudo muito complexo. Sabe, eu sempre gostei do jeito que você me pergunta as coisas. Quero dizer. Eu sempre gostei das suas perguntas. Me fazem querer dar respostas. Me sinto uma artista de rock sendo entrevistada. Talvez isso seja algum coisa que eu senti, mas não pensei.”

Ficaram em silêncio. Ele tinha medo de falar e incentivar um novo monólogo. Não que ele não gostasse. Ele tinha acabado de perceber que adorava ouvi-la falar tão abertamente. Pensando e falando, pensando e falando...

“... E não precisa perguntar pra sua mãe que cor é. Talvez a minha cor preferida eu não consiga ver, de verdade. Sabe? Agora esse sofá é a minha cor preferida, mas se eu levantasse e fosse me deitar, a cama seria... O que responde à sua primeira pergunta. Viu só? Você me faz falar.”

Eles não tinham se beijado. Estavam encostados um nos outros com as mãos dadas, e de repente perceberam que se amavam. Talvez desde nascidos. E isso era engraçado. Engraçado o suficiente para suprir a falta de beijos, por enquanto.

“Acho que isso é bom, não é? Bom. No final das contas, não sei se algum dia eu pensei nisso antes. Entendo o que você quer dizer. Talvez a gente tenha sempre sentido e pensado, e só não sabemos. Eu acho que eu moro fora de mim. Eu acho, agora, que eu moro em você. Talvez isso explique muita coisa. Talvez isso só gere mais perguntas.”

Tarde de Domingo. Por do sol, céu rosa. Friozinho repentino, agradável.
Pode parecer estranho, mas eu adoro o Domingo. Poderia dizer que é o dia que mais aprecio da semana. Mas não digo.
Talvez seja porque aqui no asilo, Segunda-feira não signifique nada. Nem trabalho, nem estudo, nem nada fora do comum, da rotina. Talvez seja porque Domingo é depois do Sábado. Talvez seja porque eu odeio o Sábado.
Dia de visitas. Humpf. Dia em que sua família cumpre a obrigação de vir te ver, pra que você não se sinta sozinho. Como se toda a hipocrisia que eles trazem junto não aumentem sua solidão. Melhor seria se eles não viessem, não se comprometessem.
Não que a minha família venha, eles me colocaram aqui porque não tem tempo pra mim. Nem aos Sábados. É engraçado. Imagino como foi que tive tempo pra eles. Como foi que tive tempo para aninhá-los, niná-los, cantar, preparar mamadeira, banhá-los, ser pai. Me pergunto como tive tempo para cuidar dos filhos dos meus filhos quando estes queriam sair nos fins-de-semana.

Não é rancor, não é mágoa. É velhice.

Quando você está velho como eu, parece que lhe arrancam a crosta que você construiu enquanto vivia, deixando-o como um pássaro depenado, sensível a qualquer toque. Sua aparência, o abandono, o frio nas tardes, a falta de sensibilidade, a falta do amor, e todas as coisas que te machucaram pelas quais você passou na vida, tudo, é como se fosse um arranhão na sua pele sensível exposta.
E você começa a se perguntar o que aconteceu. De repente, você está em uma cadeira de rodas, sem enxergar um palmo à sua frente, com qualquer mão fria te dando uma papa sem gosto na boca. Você não pode comer, foder, ver, amar. Seu coração está guardado em uma caixa dura, fria, de vidro.
E a unica coisa que te alegra são os Domingos. Assim, com o céu rosa, com o friozinho por baixo dos cobertores, sentado na sua cadeira dura. Vai entender? Ao menos esse momento te faz bem.
No final das minhas contas, velhice é o purgatório pós-morte. A igreja não está de todo errada.

domingo, 19 de setembro de 2010

Cor de laranja

Era uma casa de loucos. Grades nas janelas, duas portas, uma mãe, um pai e um filho.
O pai, outrora sorveteiro, agora passava o tempo em dois mundos, falando com a mulher de seus sonhos. Amava tanto a esse mundo, que do outro já desistira, sua sina agora era ficar paralisado enquanto corria na imaginação. Podia-se ver na sua expressão um sorriso crônico, e os olhos voavam por toda a face, por trás dos óculos de grau.
Tinha aquele olhar de perdido, que encontramos normalmente nesse tipo de gente. Tinha dentes amarelos, sem escovar. Tinha os cabelos oleosos, a barba crescida, e o pescoço caído.
Quem olhava pro homem, percebia sua ausência física, e se assustava ao ouvir as histórias de seu mundo descoberto.
Homem já não era, esquecera dos amigos, das pessoas, da esposa, do filho. No seu mundo tinha tudo isso, e sentia falta apenas de cheiros, que seu nariz lá não estava.
Já a mãe, tinha de todos os tipos de compulsões e transtornos obsessivos: sua vida era limpar, tirar, ajeitar, roer, piscar, e todas as loucuras que se veem por aí. Separava cores, juntava objetos de mesmo elemento, e idealizava o mundo perfeitamente organizado, cada coisa em seu lugar. Lugar esse que ELA achava melhor.
A mulher, tão fora de si, na hora do jantar arrumava a família, separando cores para as roupas e pratos, arrumando e deasarrumando a mesa cinco vezes antes de finalmente servir. Toalha de mesa, talheres, jogos de prato, roupas e penteados: tudo na sintonia do dia.
Sua vida se tornou tão compulsiva, que de sua família esqueceu, transformou-os em seus fantoches, como nas brincadeiras dos tempos infantis: veste isso, senta ali, levanta o braço, reza pra Deus.
O filho, o mais doce, endoidara por motivos dos pais, mas tinha como loucura o mais comum: passava as tardes debruçado sobre as grades da janela, esperando seu amor.
E eis que às sete de manhã e à uma hora da tarde, ela passava, olhando pro chão, desatenta, ouvindo música em seus fones. Mochila nas costas, sempre dejeans sujo, os cabelos louros amarrados, deixando os olhos brilhantes à mostra.
E ele olhava-a passar, prestando atenção nos seus passos um pouco tortos, na música alta, que se podia ouvir de lá da janela, no ritmo de seu andar - que a cada dia combinava com a música que ouvia - desleixado, na cor da camisa que usava e no movimento dos braços livres, que não sabiam o que fazer, fugiam sempre pra boca, que roía as unhas sem esmalte.
Todo o seu coração e olhos se viravam para aquela garota, e ele apreciava cada segundo em que ela aparecia. Sentia seu coração pular, e abria um sorriso tolo, de louco, enquanto seus olhos brilhavam mais que os dela. Até que ela ia embora, e ele ficava lá esperando até a tarde, até a noite, até o outro dia, sua vida na janela, atrás das grades.
Era uma casa de loucos, desvairados. No meio da ladeira, cor de laranja, como as telhas. E todo mundo que passava pela frente, suspirava de pena, sem saber que aqueles loucos viviam muito mais do que eles, em seus mundos paralelos de cores.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Caiu do espaço

Depois de um dia chuvoso, eu estava lá, sentado no banco, com vontade de ir embora, mas preguiça de pôr os pés no chão.

Ficava lá, parado, olhando as folhas caírem e as pessoas irem e virem o tempo todo, sempre me perguntando o que era que elas pensavam e o que estavam vivendo naquele momento. Sempre faço isso, e sempre acabo me assustando com o tamanho do mundo.

E eis que ela passou.

Parecia não pertencer ao nosso mundo, parecia ter toda uma atmosfera ao seu redor, todo um contorno de anéis, parecia enorme, brilhante, quente. Acolhedora, fria, azul e vermelha.

Dançava uma música inexistente, os olhos fechados. Naquele momento, ela parecia pronta pra ignorar qualquer coisa: o fim do mundo, de sua vida, da vida de quem amasse. Parecia estar pronta pra cair milhões de metros, pra se ferir, pra sorrir, pra chorar.

E as pessoas a olhavam com desprezo. Com pena, estranheza, frieza. As pessoas comuns tem o hábito de odiar o estranho, o não-natural.

Eu simplesmente sorria. Não conseguia tirar os olhos dela, esperando que ela abrisse os olhos, e eu pudesse ver a cor que as pálpebras escondiam. Esperava que ela sorrisse, e mostrasse sua magia por covinhas. Esperava que ela levantasse as sobrancelhas e me desse uma nova expressão facial pra admirar. Esperava que ela olhasse pra mim, e então eu poderia estar pronto pra qualquer coisa também. Queria que ela soltasse o cabelo, e deixasse que o vento levasse o cheiro do seu mundo se espalhar por aquelas folhas, por aquele dia chuvoso, por mim.

E ela não parecia querer sair desse estado. É claro. Se eu pudesse! Se eu pudesse algum dia sentir algo como aquilo, ficaria ali pelo resto da vida, sozinho ou não.

Mas eu precisava fazer alguma coisa. Precisava ser notado, precisava entrar naquele universo, nem que fosse pra sentir seu cheiro.
Levantei e fui até ela. E esbarrei.

Na hora, parecia muito normal. Mas assim que o fiz, meu rosto se avermelhou. Fique com vergonha. Vergonha de interromper um momento tão lindo por puro egoísmo. Por puro amor. Por puro.

E ela parecia ter acordado de um transe. Abriu os olhos. Olhos claros, não sei exatamente de que cor. Brilhavam, refletiam doçura. Meu coração saltou quando pude ver suas sobrancelhas formarem um desenho de preocupação. Todo o seu rosto se desfez e se fez novamente. Toda ela me olhou, e se virou pra o que tinha acontecido. E então eu ouvi sua voz:
"Desculpe".

Ela falava no tom da música inexistente que dançava. Música que não era mais inexistente. Agora eu a ouvia também. E eu até poderia dançar, se não estivesse flutuando e tremendo, se não estivesse louco, atordoado, aturdido.

"Eu... Eu..."

'Eu não queria, foi sem querer.' Eu poderia ter respondido isso. Eu poderia ter dado qualquer resposta e ter ido embora. Eu poderia ser gentil e lhe passar uma dessas cantadas que eu odeio, e poderia ser o mais normal possível. Mas se tivesse agido assim, nada seria como é hoje. Então não me arrependo de ter respondido:

"Eu só queria entrar no seu universo. Me desculpe. A música é mesmo linda. Seus olhos também. Qual é o seu nome? Imagino que seja algo tão singular como você. Me desculpe, mesmo. É que eu estava ali sentado, e você parecia ter caido do espaço. Precisava te entender. Você sabia que eu estaria aqui? Sua expressão me diz que sim. Me desculpe."

Ela ficou em silêncio por muito tempo. Tanto tempo que a sua música já tinha me feito dançar quando ela respondeu:

"Meu nome é Estela. Sabe o que significa? Significa Estrela, em alemão. Eu realmente caí do espaço."

E então, ela riu. Eu não vou tentar descrever como era seu riso, nem como conversamos por doze horas em uma cafeteria qualquer. Nem como nós passamos a nos ver todos os dias, e como dançávamos por horas. Não vou tentar descrever como foi o seu beijo, ou como nós compartilhamos nosso mundo. Não vou tentar por em palavras como foram os anos que passei com ela, e como vivemos juntos pelo infinito. Não vou tentar dizer como foi que meu coração, eu e meu universo, - nosso universo - ficou quando minha Estrela explodiu no espaço.

A única coisa que digo é que hoje é Julho, e hoje faz quarenta anos que eu a vi pela primeira vez. Aqui, sentado nesse banco de madeira, vendo as folhas caírem e olhando para as pessoas. Aqui, imaginando onde a minha Estrela está, e lhe dedicando minha vida e meus suspiros eternos.